Comentário
Pequena redação criada em minha mais recente entrevista de emprego.
Solicitaram-me uma redação, mínimo 20 linhas, sobre uma assunto qualquer, e esta idéia se formou na minha cabeça enquanto tentava me inspirar nos meus antigos textos (acabei me inspirando em um Journal, ainda não publicado, chamado “Diferença alguma no curso da humanidade”).Bem, a história saiu curta demais (eu tinha pouco tempo e papel), e com pouco nexo. Originalmente, tentei misturar os meteoritos com a origem do taxista, mas não ficou crível. Foi preciso mudar algumas coisas ao arquivá-la.
A história continua com um ar meio ausente, incompleto, mas eu gostei da idéia. Não sei por que, mas gosto de assuntos grandiosos que passam despercebidos pela História da Humanidade.
Em uma de minhas várias viagens pelo mundo, visitei a cidade de Atlanta, nos Estados Unidos. Não é raro para mim viajar para um lugar desconhecido, permanecer no destino umas três ou seis horas e logo partir, faz parte do meu trabalho. Em Atlanta, porém, permaneci uma noite inteira.
Evidentemente, não era o planejado. Este tempo se deu por causa do taxista que me levava de volta ao hotel. O homem de meia-idade, cabelos brancos, aparência frágil, começou a tossir violentamente ao volante, portanto concordei em levá-lo ao hospital, e lá permanecer, afim de não deixá-lo sozinho.
Sentado num banco desconfortável por mais de três horas, aguardei o senhor, que, segundo os doutores, sofria de um grave tumor no pulmão. Foram horas longas e tediosas, mas os bons sentimentos que são evocados quando ajudamos um estranho foram o suficiente para sustentar minha paciência. Neste ínterim, notei um rebuliço entre alguns doutores na recepção. Curioso, decidir dar uma espiada.
Todos os quatro médicos debruçavam-se sobre umas pedrinhas vermelhas, depositadas num prato de alumínio no balcão. Segundo eles, haviam sido expelidas pelo taxista, após todas estas horas de tratamento. O taxista agora descansava tranquilo em seu leito, aparentemente melhor de sua enfermidade.
Eu também fiquei curioso a respeito das pedrinhas. Eram bonitas, de um vermelho-rosado, triangulares e muito polidas. Imaginei que deviam causar um tremendo desconforto no ancião. Apenas por curiosidade, pedi aos doutores uma destas pedrinhas, que guardei sem ter muita idéia do porquê.
Hoje, 22 anos depois, vejo em todos os noticiários a maior festa já testemunhada na História: a descoberta da cura para o câncer, graças à uma substância encontrada abundantemente em plantas no cemitério Holy Servants, em Atlanta – Georgia, Estados Unidos. Dizem os cientistas que a substância, ao contato com a saliva, se transforma em pequenas pedrinhas curiosamente vermelhas e triangulares, e é um agente poderoso no processo de criação de anticorpos e na cura de cânceres e tumores. Os mesmos cientistas afirmam só terem encontrado esta substância naquele local. Acreditam que a mesma foi trazida em uma chuva de meteoros naquela área, ocorrida há vários séculos atrás.
Hoje mesmo, 22 anos depois, procurei o ancião taxista, e soube que ele morreu um dia depois daquela noite da minha viagem, irônicamente da mesma doença que as pedras expelidas, hoje curam. Ele foi sepultado naquele mesmo cemitério.
Sem nunca descobrir o significado daquilo, o segredo perdeu-se com a morte do ancião.
Pergunto-me, todos os dias: como elas foram parar no estômago daquele taxista? De onde ele pode ter vindo? Se ele possuía a cura, por que morreu logo em seguida?
Mas estas perguntas nunca serão respondidas, e o caso inusitado passou despercebido pela História da Humanidade.
Hoje, 22 anos depois, me arrependo de um dia ter jogado fora as pedrinhas coletadas no balcão.
Ela era a única prova que faria todas as pessoas do mundo agradecer sua dádiva àquele homem. Mas o fato perdeu-se no esquecimento, e as pessoas continuam a agradecer sua dádiva apontando para os céus.
Deixe um comentário